O SONHO DA CORRUPÇÃO


Um jornalista escreveu na última sexta-feira em seu twitter: “Uma verdade: nós todos que combatemos a corrupção, no fundo dizemos: "ah se fosse eu que estivesse nesse bolo!"”.
A visão demonstrada na rede social indica que os cidadãos que combatem a corrupção gostariam, na verdade, de estar na condição de corruptos. Para disfarçar a sua própria ideia, o profissional transmite como sendo algo de todos.
Não, essa é uma verdade dele. Não é a minha e não é a regra. Isso pertence àqueles que ainda enxergam a política como um mecanismo de crescimento econômico pessoal/individual. É a sorte de ficar rico da noite para o dia.
O Brasil está vivendo um momento interessante em sua pequena estrada democrática. E por mais que alguns veículos da imprensa tentem demonstrar o contrário, os escândalos de corrupção que estão aparecendo na superfície não são os maiores de nossa história, mas sim os mais visíveis. Os mais escancarados.
Hoje, as pessoas reivindicam mais direitos e cresce o entendimento sobre o que, realmente, são práticas republicanas e o que é crime. Isso não acaba com o ilícito, mas dá evidência e destaque maior ao ato do corrupto e do corruptor. A sensação de possibilidade de punição aumentou.
Agora com a internet e mecanismos tecnológicos implantados nos aparelhos celulares, uma ação escabrosa perpetrada numa pequena cidade do interior brasileiro pode ganhar o país. O mundo todo está mudando.
Sei que parte desse sentimento exteriorizado pelo jornalista ainda continuará existindo por longo tempo. É a mensagem incutida nas pessoas de que “crescer” na vida depende de um único passo. É a bola que vai quicar na sua frente e um único chute mudará toda a sua vida. É o gol que vale uma carreira.

No mundo econômico, é aquilo que os estadunidenses chamam de “Sonho Americano”. A oportunidade que bate à porta e muda todo o seu futuro. Essa ideia é essencial ao sistema capitalista para que “os que não têm” sejam pacificados com a esperança de um dia ser rico. Se o sistema mantém uma ponte para subir ao topo, ele merece continuar. Triste engano.
A máscara desse engodo econômico está caindo. Boa parte da população não espera mais a chance do enriquecimento numa tacada só. Não se perde tempo pensando nisso ou fazendo da sorte o centro de seu trabalho. A sorte é importante, mas não pode ser o núcleo de uma vida.
A oportunidade para uma formação intelectual constante e o espaço ao sol para conseguir trilha profissional regular é o verdadeiro sonho do povo brasileiro. Para isso, precisamos de um Estado que respeite o dinheiro público com políticas cada vez mais inteligentes e eficazes nas soluções dos nossos problemas. É o contrário da ideia apresentada pelo jornalista.
Se o “Sonho Americano” é a enganação do capitalismo, chamaremos de “Sonho da Corrupção”, aquilo descrito pelo jornalista. Seria a representação dos que vivem a espera da oportunidade única de mudança no status social pelas vias do erário, às custa do dinheiro público.
Essa não é a minha fantasia. Também não é a do brasileiro. Não há nada melhor do que o dinheiro limpo, suado e marcado com a força do trabalho. Nada melhor do que o sentimento de estar cumprindo o seu papel coletivo com honradez. Esse é o sonho do povo brasileiro. Essa sim é a verdade que precisa ser dita.
Antonio Rodrigo Machado é advogado no Escritório Cezar Britto Advogados Associados.

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