Lideranças sindicais da CUT/SE debatem violência contra a mulher trabalhadora
A deputada Ana Lúcia (PT) abordou a História de Luta das Mulheres no Brasil e o Procurador do Trabalho Ricardo José Carneiro discutiu as formas de violência que acometem as trabalhadoras brasileiras
Escrito por: Iracema Corso
Rosana Goes de Menezes (Secretária Geral do Sindiserve-Canindé) |
Discriminação na contratação, assédio moral e assédio sexual são três
formas de violência recorrentes nos ambientes de trabalho. Na manhã da
última sexta-feira, dia 08 de agosto, durante a formação ‘A violência
contra a mulher no mundo do trabalho’, realizada pela Central Única dos
Trabalhadores (CUT/SE), o procurador do Trabalho em Sergipe, Ricardo
José Carneiro, explicou que estes três tipos de violência são praticados
principalmente contra trabalhadoras.
Ao apresentar o resultado da pesquisa do IPEA comprovando que para a
população brasileira a mulher não integra o perfil do ‘trabalhador
ideal’, o procurador Ricardo Carneiro exemplificou desdobramentos do
machismo institucional que existe no Brasil. O exemplo gritante do
concurso público para policiais da Bahia que no edital, recentemente
publicado, exclui mulheres que não são virgens foi citado, mas outras
formas mais sutis de discriminação na contratação de trabalhadoras são
mais corriqueiras e muitas vezes passam despercebidas.
“Só é criminalizado no Brasil o assédio sexual com chantagem, que não é
a forma mais comum praticada. As situações de assédio sexual por
intimidação, que é uma modalidade não catalogada de assédio sexual, são
justamente as que acontecem com mais freqüência. O assédio moral é a
situação que degrada o ambiente de trabalho para alguma pessoa ou
coletivamente. A necessidade de se masculinizar o ambiente de trabalho é
uma realidade comum e é uma situação de assédio moral contra as
mulheres. A implantação de um programa de saúde e segurança do trabalho
nas empresas é fundamental para criar um ambiente saudável e seguro para
mulheres e homens”, explicou o procurador do Trabalho, Ricardo
Carneiro.
Às lideranças de entidades sindicais presentes, o procurador alertou
que atualmente os sindicatos, de modo geral, não inserem clausuras
relacionadas ao assédio moral e ao assédio sexual nos acordos coletivos
firmados junto às empresas. “Além disso, é importante que se fiscalize e
que se crie um espaço para que a trabalhadora vítima de assédio
denuncie e tenha resposta em relação a esta denuncia”, sugeriu.
A segunda parte da formação foi comandada pela professora e deputada
estadual Ana Lúcia Menezes (PT) que abordou a história de luta da Mulher
no Brasil. Ela apresentou dados sobre a discriminação contra a mulher
trabalhadora que recebe uma remuneração menor que os homens ocupando a
mesma função, alertando que esta desigualdade é ainda maior quando se
aumenta o nível de escolaridade dos trabalhadores de ambos os sexos.
Ana Lúcia acrescentou que o Brasil é um dos países que menos vota na
mulher para cargos públicos e que o direito das mulheres à educação é um
fato recente. “A história da mulher é uma história de muita submissão e
facilmente vai se construindo no seu imaginário a reprodução desta
situação de submissão”, afirmou.
A deputada resgatou que até o início do século 20 o espaço reservado às
mulheres era o espaço privado, o interior de suas casas, e que as
primeiras intelectuais sergipanas vieram da Escola Normal, eram
professoras em sua grande maioria. Ana Lúcia resgatou a história da
primeira médica sergipana Ítala Silva de Oliveira, que se graduou em
Medicina na Bahia, em 1927, mas não conseguiu voltar a viver em Sergipe
pelo teor do machismo e conservadorismo da época, e por isso acabou se
mudando para o Rio de Janeiro. A deputada afirmou que muitos capítulos
da história de luta das mulheres brasileiras não foram ainda escritos
nem plenamente resgatados, a exemplo da vida de luta da heroína
quilombola Tereza de Benguela, que liderou e administrou um quilombo em
Mato Grosso, no século XVII.
“Só com Lula, recentemente, a mulher camponesa, trabalhadora, passou a
ter direito à propriedade, mas até hoje nas regiões canavieiras você
encontra mulheres cortando cana para aumentar o rendimento do marido,
porque o contrato é feito no nome dele”, explicou.
Após as exposições, durante proveitoso debate envolvendo lideranças
sindicais, homens e mulheres, o vice-presidente da CUT/SE, Roberto
Silva, enfatizou a importância da retomada deste Coletivo de Mulheres
para discutir e aprofundar o debate de gênero no meio sindical.
Participaram da formação o Sindicato dos Servidores Públicos de Monte
Alegre (SINTEGRE), o Sindicato dos Previdenciários do Estado de Sergipe
(SINDIPREVI), o Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado de Sergipe
(SINDASSE), o Sindicato dos Servidores Públicos de Campo do Brito
(SINDIBRITO), Sindicato dos Servidores Públicos de Nossa Senhora do
Socorro (SINDISOCORRO), Sindicato dos Trabalhadores da UFS (SINTUFS), o
Sindicato dos Servidores Públicos de Nossa Senhora da Glória
(SINDISERVEGLÓRIA), o Sindicato do Poder Judiciário do Estado de Sergipe
(SINDIJUS), o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação de ados do Estado de Sergipe (SINDITIC),
Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Canindé de São Francisco
(SINDISERVE-CANINDE), Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de
Itabaiana (SEPUMI), Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Frei
Paulo (SINDIFREI), Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da
Rede Oficial do Estado de Sergipe (SINTESE), Sindicato dos Servidores
Públicos Municipais de Campo do Brito (SINDIBRITO), Sindicato dos
Trabalhadores do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe (SINDICONTAS) e
o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Têxtil do Estado de Sergipe
(SINDTEXTIL).
A diretora da CUT/SE, Itanamara Guedes trouxe um importante informe da
14ª Plenária Nacional da CUT, realizada na última semana de julho em São
Paulo. “Foi aprovado na plenária que a composição da diretoria da CUT
nacional terá 50% de participação feminina. Esperamos que o mesmo ocorra
aqui em Sergipe com as diretorias de todos os sindicatos filiados à
CUT/SE”.
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